Nascido na Ucrânia, o movimento feminista Femen hoje conta com ativistas em toda a Europa. E desde que a ucraniana Inna Shevchenko, uma das figuras mais destacadas do grupo, fugiu para Paris, onde obteve asilo político em 2013, o movimento vem sendo coordenado de lá.
O Femen tornou-se notório na França por suas ações atrevidas e contundentes. Quando o papa Bento 16 renunciou ao papado, no dia 12 de fevereiro do ano passado, o grupo festejou a saída dele na Catedral de Notre Dame, em Paris, com gritos de guerra como "Game over, papa" e "Crise da fé".
Supostamente, alguns sinos foram danificados durante os protestos, e nove integrantes agora enfrentam processo judicial, o primeiro contra o Femen na França. Adiado por duas vezes, o julgamento está marcado para 9 de julho.
Métodos polêmicos
Ucraniana Inna Shevchenko obteve asilo político em Paris em 2013
É grande o interesse da mídia nas autodenominadas "sextremistas". Mas já há algum tempo o mito vem sendo desfeito: a imprensa não tem abordado apenas as bandeiras defendidas pelas ativistas topless, mas também suas brigas e escândalos internos.
Em meados de fevereiro, sob o pseudônimo "Alice", uma dissidente do grupo relatou ao diário conservador Le Figaro sobre condições semelhantes a uma seita, e atividades quase militares na formação das ativistas, comparando a organização a uma ditadura.
Inna Shevchenko respondeu às acusações no jornal Huffington Post: o grupo não é uma "trupe de colegas, mas uma organização militante", argumentou. "Nós não nos encontramos para beber umas e outras, mas sim para lutar", justificou Shevchenko.
Mas a favor de quem e contra quem lutam atualmente as mulheres do Femen? Muitas feministas criticam a falta de critério das mulheres – em sua maioria, jovens – ao escolher os alvos de seu engajamento. Sua luta inicial era contra a prostituição na Ucrânia. Depois protestaram contra a mutilação genital feminina, o extremismo de direita e a violência doméstica.
Elas apoiaram as moças da banda punk russa Pussy Riot e a blogueira egípcia Aliaa Magda Elmahdy; tumultuaram programas de televisão, eventos políticos e protestos de seus adversários ideológicos. Onde quer que mostrem os seios, as ativistas conseguem chamar a atenção – e isso devem, ao seu ver, exatamente à nudez. O fim justifica os meios, mesmo em igrejas ou mesquitas.
Protesto na catedral de Colônia, no natal de 2013: "Eu sou Deus"
Críticas de antigas companheiras
Algumas feministas acusam o Femen de falta de sensibilidade. A ativista tunisiana Amina Sbou atribuiu às suas parceiras de luta hostilidade ao islamismo, por terem queimado símbolos muçulmanos e se manifestado de maneira pejorativa sobre o islã. A jovem de 19 anos, que ficou conhecida como a primeira ativista topless árabe, se desligou do Femen depois de passar quatro meses na prisão.
Assim como "Alice", Amina também acusa a organização de falta de transparência sobre seu financiamento. O jornal francês Le Monde, ligado à esquerda liberal, avaliou de perto as finanças do movimento, cujos recursos vêm 44% de doações de pessoas privadas. A associação registrada fatura ainda com suas publicações e com as "Femen parties" que organiza. As alegações de alguns conservadores, de que as feministas receberiam subvenções públicas, são aparentemente infundadas.
Apesar de todas as acusações contra o Femen, a conhecida feminista francesa Caroline Fourest mantém firme seu apoio ao grupo. Para ela, as mulheres do Femen representam as esperanças frustradas de sua geração pós-Revolução Laranja, na Ucrânia.
"Elas são herdeiras da era soviética, dos anos de Tchernobil, do surgimento da máfia do capitalismo. Um mundo em que imperam códigos totalmente antagônicos de sedução e de excesso de sexualidade. Mulheres supermaquiadas são bonecas sexy, e os homens levam sua masculinidade ao extremo", justifica Fourest.
Ações das feministas terminam muitas vezes em detenção
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Nos últimos dias, a partir de Paris, as jovens ucranianas enxergam a situação em seu país cheias de preocupação e também de esperança. Em todas as suas entrevistas, Inna Shevchenko pedia a saída do presidente Viktor Yanukovytch.
Em 1990, quando ela nasceu, a União Soviética estava em processo pleno de esfacelamento. Até hoje o seu país ainda não encontrou um caminho autônomo rumo a um futuro melhor.
Ativistas como Inna querem uma nova Ucrânia, onde valha a pena viver e onde a opinião das mulheres modernas conte. A luta das ativistas do Femen continua sendo a busca por um espaço próprio na sociedade pós-soviética dominada pelos homens. Para que os direitos femininos sejam respeitados, na Ucrânia e no resto do mundo, o seu engajamento é necessário – com ou sem blusa.
Via: dw.de
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