Em Istambul, Bruxelas, Roma, Minsk e Moscou e em sua cidade natal, Kyiv, um grupo de ativistas ucranianas levou o protesto político e social a um novo nível. Estas mulheres, conhecidas como Femen, protestam fazendo topless.
Dessa forma, elas despertam a atenção de fotógrafos e câmeras de TV, ainda que também sejam alvo de críticas por conta de seus métodos.
Um dos mais recentes protestos do grupo de ativistas ocorreu em Kyiv, quando cinco mulheres nuas escalaram a torre da catedral de Santa Sofia. Esse templo é visto, desde o século XVI, como um dos lugares mais sagrados para cristãos ortodoxos no Leste Europeu. As militantes badalaram o sino da catedral e exibiram um cartaz com a palavra ''PAREM''. Foi um protesto contra um projeto do Parlamento ucraniano que visa proibir a realização de abortos.
Para os moradores locais, tais protestos já perderam um pouco da capacidade de chocar. Afinal, todas as integrantes do Femen já se despem por diferentes causas há quatro anos.
Agora, elas estão se expandindo para outros países.
''Eu acredito que muito em breve o movimento Femen irá se espalhar para além da Europa. Ele estará presente no Japão, China, Brasil, Estados Unidos, Austrália e África. Vamos difundir nossas ideias, nossas ideias femininas a respeito de todos os temas em todo o mundo'', afirma Inna Shevchenko, uma ativista do Femen.
Contra o patriarcado
As militantes voltam sua atenção para vários temas. Por exemplo, para marcar o dia 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher, elas fizeram uma campanha em Istambul em um esforço para demonstrar sua solidariedade às vítimas de ataque com ácido. As mulheres pintaram seus corpos nus de forma a tentar reproduzir queimaduras com ácido.
As manifestações do Femen, conhecidas como ''ataques'' são sempre espetaculares e isso não se deve somente ao seus corpos nus. Elas também usam faixas e cartazes com frases agressivas como ''Monstros - Por Causa de Vocês'', usada no protesto sobre ataques de ácido contra mulheres, ou "Mulheres Muçulmanas - Fiquem Nuas", em apoio às mulheres islâmicas vítimas de abusos. Elas mantêm a sua rotina de ''ataques'' ao longo do ano, mesmo no inverno.
As ativistas estão frequentemente seminuas e trajando grinaldas de flores - um adereço tradicional da Ucrânia.
''Nós optamos por temas fortes, que são discutidos e que são socialmente importantes. E tentamos fazer com que o mundo veja que existe uma opinião feminina a respeito desses tópicos. O que estamos fazendo é encher o mundo com nossa opinião feminina'', afirma Inna Shevchenko.
As meninas dizem que todas as suas campanhas visam combater o patriarcado - em todas as suas formas. Pode ser o da Igreja, o de políticos, o que é praticado em seu país ou em outros países.
''Nós atacamos todo mundo, desde tiranos até ditadores como (Vladimir) Putin (presidente eleito da Rússia) e (Alexander) Lukashenko (presidente da Belarus) e piadas políticas como (Silvio) Berlusconi'', afirma a ativista.
'Prostíbulo'
A Femen vem realizando uma forte campanha em torno da Eurocopa 2012, que será sediada na Ucrânia e na Polônia. Elas temem que o fluxo de torcedores europeus provocará um aumento da prostituição e do turismo sexual no país. Por isso, elas adotaram o slogan ''A Ucrânia não é um prostíbulo!''.
Atualmente, o Femen conta com 40 ativistas de topless e 300 integrantes que fornecem apoio ao longo do ano inteiro aos protestos, fazendo banners e escrevendo slogans. Além disso, o Femen se orgulha em ter feito sucessores e fãs no exterior.
"Contamos com 50 ativistas femininas na Europa. Só na França, temos 15 militantes topless de origem muçulmana. As meninas vieram de países muçulmanos para a França e agora estão lutando contra a adoção da sharia (a lei islâmica que reúne ensinamentos do Corão). Nós estamos presentes nos Estados Unidos, Suíça, Itália, Bulgária, Holanda e Tunísia'', disse Inna Shevchenko ao serviço ucraniano da BBC.
Os protestos do Femen acabam frequentemente terminando em prisões. É o que acontece na Ucrânia e que já ocorreu na Turquia e na Rússia. Mas a campanha mais dramática se deu na Belarus, em 2011, quando elas protestaram ao lado do Comitê para a Segurança Estatal, ou KGB, em Minsk, a capital do país. Após os protestos, as integrantes do grupo foram capturadas por homens sem identificação que praticaram atos de violência física e sexual contra elas. Elas voltaram para casa espancadas, tiveram seus cabelos cortados e cobertos com um líquido brilhante.
As integrantes do Femen afirmam que sua nudez simboliza a liberdade. ''Uma mulher nua é uma mulher livre'', afirma um dos pôsteres do Femen.
''Nós representamos o novo feminismo - o feminismo em ação. Nós acreditamos que o feminismo clássico, que existiu há 50 anos, trouxe uma importente renovação para o desenvolvimento social, mas agora precisamos de sangue novo e acreditamos que um movimento feminino como o Femen represente esse sangue novo'', afirma Inna Shevchenko.
Maria Dmitrieva, uma analista feminista do Centro de Estudos de Gêneros Khariv (Krona, na sigla em ucraniano), compara o Femen ao grupo People for the Ethical Treatment of Animals - (Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais, Peta, na sigla em inglês). A organização também usa métodos extremos como fotos chocantes em que mulheres nuas aparecem cobertas com sangue de animais. Assim também como o Femen, o grupo também enfrenta muitas críticas.
Mensagem além dos seios
''As pessoas veem a mensagem além dos seios nus?'', pergunta Tamara Martsenyuk, uma professora de sociologia que leciona em Kyiv e na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. ''O Femen prova apenas que na sociedade ucraniana uma mulher é vista como um lindo objeto. E, agora, como um objeto político.''
A socióloga afirma que o ''ativismo performático'' é muito semelhante à banda de punk rock russa Pussy Riot e ao coletivo feminista francês La Barbe. Todos esses grupos, diz ela, ''carecem de um objetivo mais amplo''.
Os usuários da Internet estão divididos a respeito das atividades do Femen: alguns concordam com os temas que elas apoiam e outros preferem falar a respeito de seus seios.
A principal fonte de renda do Femen se dá por meio da venda de suvenires em seu site. No passado, elas chegavam até a contar com um conselho de curadores, mas atualmente, como diz Inna Shevchenko, elas contam com doações de voluntários tanto da Ucrânica como de outros países.
''Entre eles há estudantes, lojistas, homens de negócios...são pessoas diferentes e nós nem conhecemos muitos deles. Eles apenas nos escrevem e dizem querer nos ajudar e nos enviam de 20 a 30 euros (de R$ 50 a R$ 75), às vezes mais'', afirma a militante.
Inna Shevchenko diz ainda que recentemente o movimento recebeu um novo patrocinador, vindo da Turquia: ''Alguém na Turquia decidiu auxiliar o Femen ao imprimir camisetas e roupas de baixo com os nossos logotipos''.
Via: bbc.co.uk
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