Quer fazer parte do Femen Brasil? Sara Winter explica como

Por Letícia González

SARA, 19 ANOS, É A PRIMEIRA INTEGRANTE BRASILEIRA DO GRUPO QUE NASCEU NA UCRÂNIA PROTESTANDO COM OS SEIOS NUS. Foto: Thiago Marzano

A primeira aparição de Sara Winter em público foi cantando músicas de desenho animado japonês, aos 15 anos, quando frequentava festivais de animê no interior de São Paulo e atendia pelo codinome Kagome. Hoje, aos 19, adotou o Winter para encarar outro tipo de exposição, mais áspera e muito mais aberta a interpretações erradas, mesmo que o japonês tenha sido substituído por argumentos claros em português.

Sara é a primeira integrante do Femen Brazil, braço nacional do grupo de mulheres ucranianas que usa o topless como forma de protesto. A partir de julho, ela começa aqui o que as ativistas europeias fazem por lá há quase dois anos. Vai exigir, entre outras mudanças, o fim do turismo sexual. O método é empunhar cartazes em eventos cobertos pela mídia e, para atrair os cliques dos fotógrafos, tirar a roupa e mostrar os seios.

Antes disso, ela viaja à Ucrânia para se unir a suas mentoras em protestos durante a Eurocopa, de 8 de junho a 1º de julho. Em Kyiv, os turistas que chegam para ver os jogos são recebidos com propaganda agressiva sobre casas de massagem e prostituição (proibida no país). O Femen luta contra isso. E está de olho no Brasil por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Para arrecadar dinheiro, pede doações e vende suvenires tais como folhas de papel sulfite “carimbadas” com os próprios seios das manifestantes, que assinam o mimo antes de enviá-lo pelo correio.

Sara vai ter que encontrar o seu jeito de financiar o grupo aqui no Brasil, onde já reuniu uma rede de cerca de 40 voluntários (entre fotógrafos, tradutores, advogados). Até agora, conseguiu convencer duas garotas a tirar a blusa nos protestos. Está à procura de outras a partir de sua casa em São Carlos, onde mora com os pais (que “fingem não ver” as atividades da filha) e recebe o apoio dos dois irmãos mais velhos e das cunhadas. Sara falou à Marie Claire sobre suas escolhas (por que jamais posaria para uma revista masculina?), suas expectativas de enfrentar a polícia ucraniana e a dificuldade de encontrar um namorado que entenda sua luta.

SARA POSA EM ENSAIO NU COM AS FRASES DE PROTESTO ESCRITAS PELO CORPO. Fotos: Thiago Marzano

Confira o bate-papo e veja, ao final da entrevista, como se candidatar ao Femen Brazil.

Marie Claire – Precisa ser bonita para fazer parte do Femen?
Sara Winter – Não! O Femen não tem nenhum requisito de beleza. Coincidentemente, o grupo nasceu na Ucrânia, onde a genética das meninas as faz magras e altas. Eu mesma já fujo desse padrão. Sou mais baixinha, mais gordinha.

MC – Quais os requisitos para participar do grupo?
SW – Se identificar com a causa, ter muita vontade de lutar e estar preparada para enfrentar policiais, para perder o emprego, e para sofrer uma superexposição na mídia.

MC – Por que precisa tirar a roupa para participar?
SW – O objetivo do grupo é expor os problemas. Quando as meninas da Ucrânia começaram a protestar (no início, a causa era estudantil, depois, virou feminista), ninguém dava bola. Em 2009, elas testaram essa estratégia de tirar a blusa e tudo mudou, os protestos começaram a aparecer na mídia. Mas, além de ser uma estratégia, mostrar o corpo também é um jeito de dizer “ele é meu e faço o que quiser com ele”.

MC – No Brasil, tirar a roupa em público é crime. Está preparada para ser presa?
SW – Estou pronta física e emocionalmente. Mas o apoio jurídico acaba de ser acertado. Por isso, fiz até agora aparições com os seios pintados, e não à mostra. Os protestos vão começar quando eu voltar da Europa.

NA SEGUNDA MARCHA DAS VADIAS DE SÃO PAULO (à esq.) E PEDINDO A LIBERAÇÃO DE UMA ATIVISTA UCRANIANA PRESA EM PROTESTO

NA SEGUNDA MARCHA DAS VADIAS DE SÃO PAULO (à esq.) E PEDINDO A LIBERAÇÃO DE UMA ATIVISTA UCRANIANA PRESA EM PROTESTO. Fotos: Rafael Vila Nova e Arquivo Pessoal

MC – E na Ucrânia, não tem medo de ser maltratada por ser estrangeira?
SW – Curiosamente, não. Mas sei que as meninas de lá já passaram por muita coisa, principalmente em um protesto que fizeram na Bielorrússia, em que foram presas pela KGB, levadas ao meio do mato e estupradas por oficiais, além de serem molhadas com óleo e ameaçadas de serem queimadas.

MC – Como você se transformou na líder do Femen Brazil?
SW – Eu acompanhei o noticiário sobre os protestos delas no ano passado e adorei. Na hora pensei: “alguém vai criar o braço brasileiro já já”. Mas foram passando os meses e nada. Em março, me candidatei.

MC – Pela causa, posaria nua para uma revista masculina?
SW – Jamais. O Femen é contra a indústria pornográfica.

MC – Mas as revistas masculinas não são pornográficas. E se elas topassem clicar você com sua mensagem?
SW – Mesmo assim, não. Temos que velar pela nossa moral. Por exemplo, na Alemanha, é comum meninas que querem arrecadar dinheiro para alguma coisa montar uma barraquinha do beijo. Não faria isso de jeito nenhum. Eu uso meu corpo para lutar. Seria contraditório para mim ir contra o turismo sexual e, ao mesmo tempo, sair na Playboy.

MC – Por quê? É contra mostrar o corpo por dinheiro?
SW – O Femen não é contra a mulher-fruta, contra a Gretchen (cujo show Sara tentou invadir durante a Virada Cultural em São Paulo, em maio). Mas a mensagem que elas passam do Brasil no exterior fortalece o turismo sexual. Elas não são responsáveis por isso, claro que não, mas as conseqüências são ruins.

Quer fazer parte do grupo? Escreva para femenbrazil@gmail.com. Se quer colaborar com a viagem de Sara à Ucrânia, clique aqui.

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Via: colunas.revistamarieclaire.globo.com


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