Grupo de mulheres que protestam seminuas vai ter sede no Rio

São Paulo - 
Com a promessa de chocar a sociedade carioca e atacar o machismo e a exploração sexual, o grupo ativista Femen Brasil vai estabelecer sua nova sede no Rio. As líderes do movimento feminista chegam no dia 2 de fevereiro e prometem agir no Carnaval.

Sara Winter (centro) protesta no desfile de 7 de Setembro em Brasília | Foto: EFE

“O Rio é o foco do mundo todo por causa da Copa e da Olimpíada. Esse turismo atrai também o turismo sexual, exploração da mulher e pedofilia. Temos que combater isso”, afirma Sara Winter, ativista que comanda o grupo no Brasil. Treinada na Ucrânia, onde chegou a ser presa durante a Eurocopa de 2012, a garota de 20 anos revela que o Femen Brasil já tem 20 membros, e que a nova sede será também uma casa de acolhida.

“Além de reunir as ativistas, estamos conversando com psicólogos e profissionais para auxiliarem mulheres exploradas”, explica.

Famoso mundialmente por protestos de mulheres com seios à mostra e mensagens no corpo, o Femen quer que a sociedade reflita sobre a exploração sexual das mulheres.

O Dia: Por que o Femen Brasil vai estabelecer sua sede no Rio?
Sara Winter: O Rio de Janeiro agora é o foco do mundo todo por causa dos grandes eventos. Tem a Copa do Mundo, a Copa das Confederações e a Olimpíada. Estivemos lá dois meses atrás e percebemos que o Rio aglomera tudo que é lindo com coisas tristes. É uma cidade maravilhosa para o turismo, mas atrai junto o turismo sexual, pedofilia, exploração de menores. Precisamos estar em uma grande capital, e o Rio é mais centro destas questões que São Paulo.

O Dia: Como está estruturado o Femen Brasil atualmente?
SW: Aqui no Brasil temos 20 ativistas, muitas delas já participando de protestos. Outras ainda passam por treinamento. Ainda temos umas 15 pessoas na parte de design e mídias sociais, todos voluntários.

O Dia: Como vai ser a sede no Rio?
SW: Vai ser uma espécie de centro de treinamento da mulher moderna, ainda estamos criando um nome. Queremos aglomerar vários projetos que acontecem no mundo, como as passeatas na Europa em que homens colocam salto alto para representar a mulher. Vamos treinar ativistas para agir sem violência. Estamos angariando fundos para dar sustento para a sede. Ainda vamos procurar um local.

O Dia: Além de reunir as ativistas, a sede vai oferecer alguma ajuda para as mulheres?
SW: Conversamos com psicólogos para eles atenderem mulheres que passaram por agressão ou abuso, além de uma assessoria jurídica. Ainda está no papel, mas estamos desenvolvendo devagarzinho. Vamos chegar dia 2 de fevereiro e já tem o Carnaval, quando o turismo sexual cresce 30% na cidade. Vamos fazer algum protesto.

O Dia: O fato de vocês aparecerem com os seios à mostra não deturpa o motivo do protesto? As mulheres nuas não chamam mais a atenção do que a causa defendida?
SW: Infelizmente, a massa não está preparada para receber esse tipo de informação. As informações sobre exploração sexual são colocadas para a massa de uma forma chata, ninguém para e analisa. O Femen obriga as pessoas a recebê-la. Infelizmente, as manchetes saem por 'ativista de topless pedem alguma coisa'. Poderiam colocar: 'ativistas pedem valorização da mulher com seios de fora'. Claro que sabemos que as pessoas não estão acostumadas a ver mulheres nuas e existe um leque grande de interpretação. Mas acreditamos que um par de seios com uma mensagem atrai, afinal, a sociedade adora ver o corpo da mulher.

O Dia: Nas redes sociais, vemos algumas pessoas apoiando o Femen. Como é o contato com a massa?
SW: Ficamos extremamente contentes com quem dá apoio, tentamos conversar com todos. Recebemos muitas opiniões e sugestões, e tentamos amadurecer com elas. Nós gostamos de estar envolvidas com pessoas bem intencionadas. Estamos mantendo contato com outros movimentos sociais, todos que lutam pela liberdade.

O Dia: Por outro lado, muita gente diz que vocês só querem aparecer. Como você vê este outro lado?
SW: Nós adoramos esse tipo de crítica, pois estas pessoas não estão prontas para entender. Quando elas comentam algo já é um retorno, porque, de uma maneira ou de outra, incomodamos e chocamos. Essas pessoas são atingidas pelo nosso protesto; por algum segundo, elas pararam para pensar e opinar. Quem sabe não aprendeu algo sobre a nossa causa?

O Dia: Como o Femen vê a 'Marcha das Vadias', outro movimento feminista, que tem presença no Brasil?
SW: A 'Marcha das Vadias' começou primeiro aqui, mas o Femen começou primeiro lá fora. Nunca ouve um diálogo internacional. Aqui no Brasil, já entrei em contato com integrantes de São Paulo e Brasília. Temos um contato razoável e vemos como um movimento positivo. A diferença é que fazemos ações com uma frequência maior. Pelo menos duas por mês. Elas, infelizmente, se manifestam poucas vezes no ano. Tem a marcha, mas uma semana depois elas e as pessoas esquecem. Mas pode ter certeza que estarei na marcha sempre.

O Dia: O que te levou a entrar na luta contra a sociedade machista?
SW: Eu sempre fui fã do Femen, mas seguia a vida do brasileiro normal. Estudava, via televisão, mas não me sentia completa. Um dia pensei: 'eu sou fã delas, eu quero fazer a mesma coisa'. Mandei email para a Inna Schevchenko, que ficava na Ucrânia e agora está na França. Ela me respondeu que seria interessante ter um braço do Femen na América Latina. Eu mandei alguns dados do Brasil, e ela viu que era importante que crescesse aqui. Fui para a Ucrânia e fiz um treinamento lá. Posso te dizer que nunca fui tão feliz como sou agora.


Via: odia.ig.com.br


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