Pelo menos três mulheres da organização Femen manifestaram-se hoje, em tronco nu, nas galerias do Congresso de Deputados espanhol, contestando a proposta de reforma da lei do aborto e interrompendo a sessão de controlo ao Governo.
As mulheres, que gritavam "o aborto é sagrado", interromperam a sessão no momento em que intervinha o ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón, rosto da polémica reforma à lei do aborto, implementada pelo anterior executivo socialista.
Efetivos de segurança demoraram algum tempo para retirar as mulheres, uma das quais se agarrou a um dos postes da tribuna. O grupo Femen é uma organização feminista e os protestos são feitos por mulheres que mostram os seios.
Depois do incidente, Ruiz-Gallardón, quando retomou a palavra, lamentou ter que escutar "um grito tão impossível de entender como que o aborto é sagrado", criticando o facto de deputados da Esquerda Unida (IU) terem aplaudido a interrupção.
Recorde-se que Ruiz-Gallardón anunciou no início de setembro que o Governo previa aprovar a nova lei do aborto em Espanha durante este mês, respondendo ao "discurso tradicional" do PP em defesa do direito à vida e dos direitos da mulher.
A imprensa conservadora espanhola tem noticiado que o executivo do Partido Popular (PP) vai recuar à lei de 1985, eliminando a lei de prazos aprovada pelo Governo socialista em 2010.
Espanha voltará assim a um "sistema de pressupostos estabelecido na lei de 1985, ainda que com modificações importantes que, segundo fontes governamentais, a convertem numa lei completamente nova".
"A nova normativa (...) partirá da lei de 1985 segundo a qual uma mulher poderia interromper a sua gravidez em três casos: violação (nas primeiras 12 semanas), dano para a vida ou saúde física ou psíquica da mãe e más formações físicas ou psíquicas do feto (nas primeiras 22 semanas)", referiu em setembro o jornal conservador ABC.
O jornal conservador refere que nos primeiros dois casos não haverá grandes mudanças "além de uma maior regulação sobre quem pode avaliar os danos psicológicos na mãe", mas que no terceiro caso "haverá alterações significativas".
Assim, explica, "o executivo não vai considerar qualquer má formação do feto suscetível de um aborto, mas apenas aquelas que sejam incompatíveis com a vida".
"Não compreendo que se impeça um feto de viver, permitindo o aborto só porque sofre de uma deficiência ou malformação", declarou em 2012 o ministro da Justiça espanhol, numa entrevista ao diário La Razon.
Mais recentemente Ruiz-Gallardón disse que a nova lei cumpre o compromisso eleitoral do PP, responde à postura do partido no recurso de inconstitucionalidade que apresentou contra a reforma socialista de 2010, que definiu como uma "modificação unilateral".
Desde 2010 que em Espanha o aborto está liberalizado até às 14 semanas, tendo baixado para os 16 anos a idade a partir da qual a mulher pode decidir sobre uma interrupção voluntária da gravidez.
A lei em vigor permite ainda o aborto até às 22 semanas nos casos de "risco para a vida e a saúde" da mãe ou de "grave malformação do feto" e, sem limite de tempo e mediante avaliação de uma comissão de ética, em casos mais graves.
Diário Digital com Lusa
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