Movimento Femen se exibe em Veneza

VENEZA As integrantes do grupo feminino de protesto Femen são mulheres de peito. Após revelarem a intimidade de seu movimento para a documentarista australiana Kitty Green, acompanharam-na até Veneza para o laçamento de “Ukraine Is Not a Brothel”, causando rebuliço entre os fotógrafos ao posar de topless, sua marca registrada. Foi disparada a sessão de fotos mais concorrida do festival.

Vestidas para dar entrevistas, contaram estar foragidas. Não querem voltar para a Ucrânia, com receio das repercussões despertadas por suas manifestações. Poucos dias antes da première em Veneza, as mulheres do movimento sofreram intimidações da polícia e tiveram sua sede em Kyiv invadida.

“Tivemos que deixar a Ucrânia, pois os políticos e o serviço secreto de lá estavam nos atacando duramente. Agora nosso escritório oficial está em Paris e temos outras dez sedes pelo mundo. Estamos felizes de podermos falar com vocês e de estarmos em um lugar seguro”, disse a aparente líder do grupo, Inna Shevchenko, uma das seis representantes do Femen presentes em Veneza.

Durante o encontro com a imprensa, elas não tiveram receio de se expor, abordando os temas mais polêmicos do filme de Green, que inclusive chegou a ser presa durante as filmagens. Entre as revelações do filme, uma é especialmente impactante: o movimento feminista foi na verdade criado por um machista dominador.

O Femen se tornou conhecido mundialmente por juntar mulheres lindas, que lutam por seus direitos fazendo topless. Em sua pauta, estão males sociais como turismo sexual, racismo, homofobia, autoritarismo e machismo. Mas, ao contrário do que se imagina, o movimento foi criado por Victor Svyatski, um homem que as dizia o que fazer. Algo que não parece condizer com a ideologia do movimento.

Svyatski não está mais envolvido no Femen, porém deixou uma marca inesquecível para as mulheres. “Ele tinha muita influência e forçou algumas ativistas a desistirem”, disse Shevchenko. “Seu jeito de patriarca autoritário foi o que deu as verdadeiras feministas do movimento uma razão para se rebelar. Suas atitudes nos ajudaram a perceber como homens podem ser verdadeiros babacas”, contou

As manifestações do Femen começaram na Ucrânia em 2008, e chamaram a atenção quando as meninas seminuas destruíram crucifixos em público. O Femen já protestou contra figuras políticas e religiosas como Silvio Berlusconi e Vladmir Putin. E hoje sua ideologia encontra-se espalhada por todo mundo, com sucursais em diversos países, inclusive no Brasil.

Para filmar o documentário, a diretora acompanhou a vida e as manifestações dessas mulheres durante um ano. “Eu filmei mais de cem protestos e fui presa em sete ou oito deles”, disse Green. “Fui retida pela KGB e deportada da Biolorrússia, mas me acostumei a ser presa no final. Porém, no começo, eu estava com muito medo.”

Green disse que estava disposta a suportar a repressão, mas chegou a pensar em abandonar o projeto ao descobrir sobre o envolvimento de Svyatski. “Após alguns meses envolvida, descobri a verdade sobre o movimento, como começou e o que acontecia em seus bastidores, e fiquei muito decepcionada. Durante um bom tempo, não consegui acreditar que elas fossem realmente feministas. Tive que escolher entre continuar o documentário ou ir para casa e esquecer sobre tudo, pois simplesmente não concordava. Mas decidi ficar para expor a verdade por trás da organização.”

“O movimento é dele”, continuou a diretora. “Svyatski escolheu as meninas mais bonitas para começar as manifestações, pois elas venderiam mais jornais e apareceriam nas capas. E isso se tornou a imagem do Femen, foi a maneira de divulgar a marca. Ele era muito inteligente. Porém era um homem horrível com as meninas, as tratava de forma dominadora, gritava e as chamava de vadias.”

No documentário, Green entrevista o homem por trás de tudo. “É verdade , eu sou o patriarca de uma organização que luta contra o patriarcado. Mas os paradoxos fazem parte da história, e, além disso, Marx e Lenin eram burgueses”, diz Svyatski no filme.

Nas imagens captadas pela diretora, o criador do movimento não demonstra qualquer respeito pelas ativistas. “Essas garotas são fracas, não tem personalidades fortes. São submissas, instáveis e sem objetivos. Esses são alguns dos motivos pelos quais elas não são ativistas políticas. E era necessário ensinar-lhes essas qualidades”. A cineasta chega a lhe perguntar se ele iniciou o movimento para conquistar mulheres. E se surpreende com a resposta. “Talvez sim, em algum lugar da minha subconsciência”, responde ele.

As integrantes do Femen se manifestaram sobre o assunto em Veneza. “Ele é um homem que quer controlar as mulheres”, disse uma delas. “Quando conheci Victor, lhe perguntei quem ele era e ele me respondeu: ‘Eu sou o pai do novo feminismo’.”

Sobre a possível vulnerabilidade que a revelação pode trazer ao movimento, a manifestante Sasha Schevchenko pondera que a verdade só lhes tornará mais fortes. “Foi um feminismo criado de forma patriarcal, mas a minha opinião é que nós nunca teríamos criado uma ideologia tão forte se não tivéssemos passado por isso. Sou grata por ter conhecido esse tipo de homem, que odeia e deseja arruinar a vida das mulheres. Há milhões deles em meu país e ao redor do mundo. Nós vamos sempre lembrar de Victor para nos tornarmos cada vez mais fortes e agressivas contra esse sistema patriarcal.”

“Quando percebemos o poder que aquele louco tinha, nós tivemos que lutar contra ele e o afastamos do Femen. Hoje, finalmente, estamos prontas para trabalhar juntas, livres da tirania masculina e prometemos que nunca mais haverá um homem entre nós”, afirmou outra manifestante.

“Nossos corpos pertencem a nós, e cada vez mais mulheres tem coragem de afirmar isso, inclusive as muçulmanas”, completou Sasha Schevchenko.

Green espera que seu projeto sirva para dar mais força ao movimento e que ajude as meninas a continuar lutando. “Espero que as meninas possam seguir em frente depois disso”, ponderou, lembrando que a existência delas foi sua inspiração para pegar a câmera e se tornar cineasta. “Ukraine Is Not a Brothel” é sua estreia na direção, após ter trabalhado como fotógrafa de cenas do drama histórico australiano “Van Diemen’s Land” (2009).

O documentário ainda não tem previsão de lançamento comercial.

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Via: pipocamoderna.com.br


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